Nem sempre percebemos o que a vida nos quer ensinar, mas o importante é aproveitarmos o que nos vai dando. O Vicente é o presente que a Maria pediu. E esta é a conversa que Cristina Ferreira e Maria Botelho Moniz tinham de ter.
Leia agora um excerto da conversa entre Cristina Ferreira e Maria Botelho Moniz.
CRISTINA FERREIRA – A mãe da televisão, que, por circunstâncias da vida, quando foi ter o seu bebé, estava num lugar e, quando voltou, o lugar estava ocupado por mim. Voltámos as duas atrás no tempo. Voltaste para o sítio onde começaste, aqui na TVI, e eu voltei para as manhãs quando não imaginava voltar. Para mim, tu sabes, ia só substituir-te. São decisões empresariais.
MARIA BOTELHO MONIZ – A vida deu a volta.
CRISTINA FERREIRA – É o que é, mas sei o quanto isso te provocou tristeza, e o quanto ainda está aí muito marcado. Aquilo que sentias que era o teu lugar. Ainda está a ser difícil de resolver?
MARIA BOTELHO MONIZ – Creio que nunca vou resolver, se queres que seja sincera. Na cabeça está resolvido, porque somos pessoas inteligentes, conseguimos dar dois passos atrás, analisar a situação.
CRISTINA FERREIRA – E não sabemos o que é o amanhã.
MARIA BOTELHO MONIZ – Sabemos lá o que vai acontecer. Mas isto é uma empresa e nós somos ativos da empresa, que tem de nos colocar onde acredita que vamos ser melhores.
CRISTINA FERREIRA – Ou mais rentáveis.
MARIA BOTELHO MONIZ – Onde temos de estar naquele momento. No coração, é difícil de resolver. Foi um golpe duro, porque estava mesmo à espera de voltar. Estava ansiosa por esse regresso, por voltar àquelas pessoas que me viam todos os dias, que acompanharam a gravidez toda, de chegar e ter o Cláudio a receber-me, de ter as pessoas a quererem saber do Vicente, naquele que era o meu cantinho feliz com o Cláudio.
CRISTINA FERREIRA – O que tentaste fazer para continuar a ser feliz na televisão? É que o teu processo é o meu também, sabes? (Risos)
MARIA BOTELHO MONIZ – Sim. (Risos) Tenho de dizer isto: eu considero que as pessoas tentam muito pôr-nos uma contra a outra, quando isso não faz sentido algum. É triste ao mesmo tempo que, para te elogiarem, me deitem abaixo e, para me elogiarem, te deitem a ti abaixo. É só o que é. Somos só pessoas a fazer o nosso trabalho. Sim, foi duro. Não, nunca te culpei por isso. (Emocionada) Chorei muito. Chorei todos os dias, durante meses. Acordava, a meio da noite, angustiada. Ia para a sala, chorava, chorava, chorava e pensava: O que é que eu fiz? Fiz alguma coisa errada? Depois cai a ficha. É assim. É trabalho. Não é a minha vida. Agora, consegui interiorizar que isto é o meu trabalho. E, apesar de o meu trabalho, o nosso trabalho, ser uma grande parte das nossas vidas, a nossa vida está em casa. A nossa vida está nos nossos amigos, está na nossa família, nos nossos filhos. – Filhos. Dizer esta palavra ainda é estranho. – Isso é a nossa vida. Isto é o nosso trabalho. Dói? Dói. Muito. Chorei muito. Mas temos de encontrar alegria noutras coisas. Voltei a um formato de que gosto. Divirto-me muito. Voltei à equipa que me recebeu quando vim para a TVI. Agora, perguntas-me se era o que eu queria estar a fazer?
CRISTINA FERREIRA – Não era.
CRISTINA FERREIRA – Para mim, foi muito difícil. Não fui eu que te dei conta da decisão, porque não era capaz de o fazer. Tinha-te prometido que só te ia substituir.
MARIA BOTELHO MONIZ – Sim.
CRISTINA FERREIRA – E isso, para mim, foi muito difícil de fazer. (Emocionada) As pessoas, às vezes, não têm noção. Também tive de cumprir uma decisão que foi empresarial, a que tive de dizer que sim, como é óbvio. Podia ter dito que não, mas senti que não era essa a resposta que tinha de dar, porque a empresa estava a dizer que queria que eu estivesse naquele lugar. E foi difícil para as duas, mas acho que temos o nosso caminho. Por algum motivo, voltámos atrás. Não me perguntes qual é o motivo, porque não sei.
MARIA BOTELHO MONIZ – Sim
CRISTINA FERREIRA – Se eu te disser que estou feliz aqui, estou, porque me reencontrei outra vez. (Emocionada) Foi muito importante para mim, a nível pessoal, voltar para aqui, porque também tinham sido tempos difíceis. Tenho sempre este ar de que está tudo bem, mas também já vivi coisas muito difíceis. Quero muito ver-te feliz. Quero muito ver-te com o brilho no olhar que também quero para mim. E, portanto, espero mesmo que o futuro dê, às duas, aquilo que é o melhor.
MARIA BOTELHO MONIZ – Há de dar.
CRISTINA FERREIRA – Alguma coisa aconteceu, no nosso caminho, para isto e para este contacto entre as duas. Sei que este momento vai ser muito repetido na imprensa, façam o que quiserem.
MARIA BOTELHO MONIZ – Penso que isto, aos olhos de quem está de fora, pode parecer tudo absurdo. Olha para uma a chorar porque voltou às manhãs, outra a chorar porque saiu das manhãs. Mas isto consome muito da nossa vida e é uma grande parte de quem somos.
Leia a entrevista completa na revista CRISTINA do mês de outubro.