Diogo Piçarra. O cantor que canta sentimentos na era das máquinas. É um dos nomes grandes da pop portuguesa. Enche as maiores salas do país e está prestes a iniciar uma nova tour. Lançou recentemente um novo disco, e a revista CRISTINA não perdeu a oportunidade para mais uma conversa.
CRISTINA – Vamos falar um bocadinho sobre o teu novo disco, SNTMNTL. Que trabalho é este?
DIOGO PIÇARRA – Foi um disco criado de uma forma bastante leve e sem compromisso. Não foi feito a pensar num trabalho discográfico. Fui fazendo algumas canções sem pensar em estilos, temáticas ou conceitos. Queria mesmo explorar a música, em particular, a pop eletrónica nas vertentes que gosto de ouvir. Este é um álbum que vem depois da pandemia. O meu último trabalho tinha sido em 2019, já passaram mais de quatro anos. Não queria que fosse feito à pressa, em cima do joelho, sem que eu estivesse satisfeito com o trabalho. Creio que o resultado final representa bem tudo isso e tudo o que vivi nestes anos; alguns sentimentos, pensamentos, frustrações, autocrítica e crítica social. No todo, é sentimental dessa forma, não pelo lado romântico.
C. – O facto de seres homem e quereres falar de outros sentimentos que não apenas o amor, é uma forma de também combateres conceitos como machismo ou masculinidade tóxica, dos quais ouvimos falar mais hoje em dia?
D.P. – Sem dúvida. Existe muito medo de ser vulnerável, sensível, mostrar emoções tal como são, sobretudo sendo homem. Existe pudor em mostrar que nem sempre está tudo bem, que nem todos os dias são alegres e felizes, por mais que a nossa vida esteja a correr bem. Às vezes, estamos num estado intermédio, que nem é bom nem mau. Com as redes sociais, vemos só os dois extremos. Ou estamos mal e a chorar para a câmara; ou estamos super bem. Mas, por vezes, apenas estamos. “Não me chateiem, estou bem, não preciso de estar alegre, não estou triste”. (Risos) Creio que esse estado de espírito é bastante comum a toda a gente.
C. – Para ti, enquanto artista com uma audiência muito grande, como foi ultrapassar esses medos?
D.P. – Foi sendo gradual. Foi acontecendo ao longo dos discos. Fui mostrando essa vulnerabilidade e esse estado de espírito de algumas inseguranças, presentes e passadas, que tenho vindo a deixar gravadas nas minhas músicas. No disco anterior fiz isso nas músicas Escuro e Normal. Neste novo álbum, creio que está ainda mais presente. Começa logo com o disco a dizer: “Hoje acordei sentimental, mas acho que não é de hoje”. Sinto que estou sempre neste estado de reflexão, introspeção, por vezes, autossabotagem. Há dias em que me deito a pensar que sou o pior cantor do mundo, o pior escritor do mundo e que não devia estar a fazer isto, que há gente muito melhor do que eu; mas depois acordo e penso: “Afinal, sou fixe. Ainda faço algumas coisas, não é preciso entrar em pânico”
«Existe muito medo de ser vulnerável»
“Há dias em que me deito a pensar que sou o pior cantorn do mundo”
Leia a entrevista completa na página 135 da revista CRISTINA de abril.