A liberdade sem sombra, uma fotorreportagem pela lente de Diana Tinoco. O cravo assumiu um simbolismo no seu portfolio, mas não é só a liberdade que quer fotografar.
R.C. – Enquanto fotojornalista, como olhas para o 25 de Abril?
D.T. – Sem o 25 de Abril não existiria democracia, para que pudéssemos exercer jornalismo como o concebemos hoje em dia, plural e livre. Poder trabalhar sem temer uma possível censura, ou até represálias, é um privilégio ao qual a minha geração, possivelmente, nem dará valor, apenas por não conhecer outro cenário além deste em que já nascemos. Mas acho importante valorizarmos sempre a liberdade que nos foi dada e, acima de tudo, lembrarmo-nos de que nem ela é garantida – cabe-nos também a nós preservá-la. Foi isso que o 25 de Abril nos deu e, mesmo que não nos lembremos disso todos os dias, é isso que celebramos todos os anos.
R.C. – Tens vários registos fotográficos em que o protagonista é o cravo. Que ligação tens com essa flor, enquanto símbolo de liberdade?
D.T. – Além da carga histórica que o cravo tem para nós, enquanto país, tenho uma ligação emocional muito forte ao dia e à flor em si, por celebrar o meu aniversário a 24 de Abril. Não colo isso à minha identidade porque seria uma falta de respeito, para mim, fazê-lo; mas, e principalmente desde que vivo em Lisboa, existe quase um prolongamento da celebração – que começa algures, no dia anterior, e que termina todos os anos na Avenida da Liberdade, esteja ou não a trabalhar. Costumo dizer que é o dia mais bonito do ano, porque a energia que sinto na Avenida é muito forte, um momento muito feliz que reúne milhares de pessoas no mesmo espaço, com o mesmo propósito; um lugar onde reencontro sempre amigos e colegas de profissão. Poder testemunhar isso enquanto fotojornalista, ou ser parte ativa dessa celebração, marca-me muito, e cada vez mais. Além disso, confesso que já tentei plantar cravos em casa, mas (ainda) não tive sucesso.
