A minha mãe é uma cozinheira exímia. E cedo se notou a sua vontade de agradar aos outros, servindo-os. Nada deixa a minha mãe mais feliz do que o deleite dos outros na sua mesa de refeições. Acho que lhe ganhei esse jeito. Gosto de receber na minha casa. De ter gente à volta da mesa. De fazer comida que os surpreenda. O meu avô paterno tinha esta mania. Sem avisar a minha avó, aparecia sempre com amigos para jantar. E lá ela improvisava alguma coisa, idos que estão mais de 50 anos. Sendo filha única nunca estive sozinha. No meu lugar somos muitos. Tios e primos fazem parte do núcleo como mãe e pai. Cresci em sardinhadas debaixo das árvores. Em encontros às sextas, com um grupo de amigos do meu pai, a que se chamava merenda. Todas as semanas rodava a casa. Os domingos sempre foram os domingos, os célebres dos livros tradicionais. Talvez por isso muitas das minhas memórias me remetam à mesa e ao que em cima se põe. Talvez por isso, com a equipa de trabalho de todos os dias, as refeições ganhem tanta importância. Por serem família. Já o viram em muitos stories. Faz parte de mim. Ali sou a minha mãe feliz com a partilha. E não precisa de ser grande coisa. Pode ser como hoje. Um simples bacalhau com batatas.