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Dalila Carmo: «Sou, e sempre fui, bandeira de liberdade»

Mai 29, 2024 | Revista

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Mai, 2024

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Um ser livre, uma mulher de convicções, uma eterna viajante e uma atriz de mão-cheia. À beira de completar 50 anos, Dalila Carmo falou com a revista CRISTINA sem reservas sobre a vida, a carreira e o mundo.

Partilhamos pequenos excertos da entrevista para que conheaça um pouco mais a atrriz Dalila Carmo.

CRISTINA – Esta série [A Filha] surge num tempo em que muito se fala da “família tradicional”… Família tem de ser de sangue ou pode ser só amor?
DALILA CARMO – Estou tão chocada com esse tema, não é concebível que ainda possamos estar nesse patamar de pensamento reacionário. É contra tudo aquilo em que acredito e contra o desenvolvimento da sociedade. É evidente que vou ser sempre uma pedra no sapato da construção social, porque é tudo aquilo que evito desde sempre. Sou, e sempre fui, bandeira de liberdade e da liberdade de cada um viver como quer. E com isso não estamos a ir contra valores, nós temos valores, somos pessoas com princípios que querem contribuir para a sociedade. Embora exista uma tendência de extrema-direita no mundo inteiro, e de um certo pensamento reacionário que se está a propagar – não sei se por aversão às coisas que correram mal –, tudo isto é, para mim, inexplicável. Para todos os efeitos, há países onde existe efetiva igualdade e equidade, e é nesses exemplos que devemos estar de olhos postos. Sou uma pessoa progressista, pacifista e livre, e não consigo encarar a vida de outra forma. Quando me deparo com pensamentos jurássicos, a minha única reação possível é a de aversão. Respeito ideologias diferentes da minha, porque vivemos em democracia, mas não admito – exatamente por isso – que a minha não seja aceite. Em resposta definitiva à tua pergunta, família é tudo podendo ser, inclusivamente, apenas uma pessoa. Não temos obrigatoriedade alguma de ser mães e já fiz bandeira desse assunto. A mulher só deve ser mãe se quiser. Tudo o resto é uma construção social.

(…)

CRISTINA – Sabemos que apresentaste uma proposta de série à TVI. Achas que, enquanto atriz, é a tua missão ter um pensamento criativo sobre as realidades, e tentar materializá-lo num projeto?
DALILA CARMO – Sim, é verdade, e estamos a trabalhar nisso. Gostava de ter uma palavra a dizer sobre os projetos em que participo. Tenho muitas ideias e gosto de as trabalhar. Não quer dizer que elas avancem ou se concretizem, mas não quero impedir-me de criar este canal de comunicação. Há histórias que
quero contar, personagens que quero fazer, e esta necessidade começou a agudizar-se durante a pandemia. Gostava de não a perder, e claro, conto com a colaboração de outras pessoas para escrever, eventualmente para realizar. Confesso que adoraria ter a ferramenta da escrita, mas falta-me segurança e algum talento.

(…)

CRISTINA – Um dos teus maiores vícios são as viagens que, muitas vezes, acabas por fazer sozinha. Sentes-te confortável nessa tua “solidão”?
DALILA CARMO Sinto-me confortável nessa solidão, porque tenho um bom suporte afetivo. Acho que é preciso não estarmos sozinhos para podermos ter a alternativa de querermos estar sozinhos. Quando viajo sozinha, tenho as janelas abertas para o mundo com outra disponibilidade. Também gosto de viajar acompanhada, com amigos, familiares ou com algum relacionamento amoroso, mas estar a solo permite-me uma interação com o mundo que é mais introspetiva e muito enriquecedora.

CRISTINA – Investires nas tuas viagens traz-te mais mundo e faz de ti uma melhor atriz?
DALILA CARMO – Claro que sim. Faz de mim melhor atriz e melhor pessoa. Às vezes, roubamos vidas, apropriamo-nos das vidas das pessoas que nos rodeiam. Gosto muito de observar, e por cá não tenho tanta possibilidade de o fazer como quando viajo. Quando “perdes” (na verdade, quando ganhas) tempo a observar a vida, a ver as pessoas, e te prendes nas suas narrativas, é óbvio que acrescentas mais uma camada de conhecimento e enriqueces o teu universo criativo. Um ator precisa de ser povoado, ter cada vez mais referências… referências literárias, de cinema, de vida, de histórias etc. O ator tem de ser uma pessoa empática, e é através dessa empatia que todas as narrativas chegam até ao “nosso caroço” e, a partir daí, somos capazes de as reproduzir com outra humanidade, e com outro grau de respeito.

CRISTINA – Este ano fazes 50 anos. Como te sentes com isso?
DALILA CARMO – Sinto-me grata. Só consigo agradecer a quantidade de coisas que tenho tido e as pessoas que estão comigo. Temos maturidade suficiente
para perceber tudo aquilo que ganhámos, em vez de nos concentrarmos naquilo que não conquistámos, ou que perdemos. É a eterna questão de vermos o copo meio cheio, em vez de meio vazio. A verdade é que o meu copo é cheio de muitas coisas e pessoas extraordinárias, de muito reconhecimento, de saúde, e eu só tenho de estar grata por tudo. Sou muito transparente e, ao longo do tempo, fui aprendendo a lidar com a falta de transparência, e a aprender a rodear-me de verdade. Por isso, agora os meus pilares, e aquilo que me rodeia, estão muito mais afinados e depurados, é muito mais essencial do que aquilo que tinha há uns anos. O ator é um ser inseguro por natureza, e chegarmos a um momento das nossas vidas em que podemos relativizar tudo, em que podemos desacelerar e dizer “Obrigada por tudo isto”, é muito bom. Tem sido uma vida maravilhosa. Sinto-me de facto uma sortuda e, sobretudo, muito grata pelo tudo que tenho e por tudo o que vivo.

 

Leia a entrevista completa na edição de Maio da revista CRISTINA.

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