Na edição de Maio da revista CRISTINA falámos com Leonor de Oliveira, investigadora e terapeuta sexual. Acabou de lançar o livro «É Normal?», uma obra que põe a nu questões reais que lhe foram enviadas através do Instagram e que agora têm respostas.
Descobri recentemente que os homens também fingem o orgasmo, mas não vejo ninguém a falar sobre isso! Nem eles!
Qualquer pessoa pode fingir um orgasmo. Acontece, normalmente, em situações em que as pessoas antecipam que o orgasmo é improvável, desejam terminar a atividade sexual, evitar magoar parceiros ou, pelo contrário, quando querem agradar-lhes. Acontece que as mulheres cis-hétero têm, em termos médios, menos prazer que os homens, um fenómeno conhecido na literatura científica como “pleasure gap”, pelo que talvez finjam mais orgasmos.
Como lidar com excesso de lubrificação natural?
A lubrificação é uma resposta saudável de excitação em pessoas com vulva. Nada há de errado ou anormal em lubrificar bastante, pelo contrário. Pode, inclusivamente, ser bastante excitante para as pessoas com quem fazemos sexo. Lubrificação abundante é algo a ser celebrado, e não uma razão para nos preocuparmos ou nos envergonharmos.
Afinal, ser bissexual é gostar de homens e mulheres ou de todos os géneros?
Apesar de a palavra ter origem numa noção binária de género – ou seja, que existem dois géneros ou sexos, homens e mulheres –, muitas pessoas usam a expressão “bi” para expressarem que se sentem atraídas por mais de um género. Nem todas as pessoas bi se sentem somente atraídas por homens e mulheres; também podem sentir-se atraídas por pessoas trans e pessoas não binárias. Ou seja, ser bissexual não implica que se acredite que existam apenas dois géneros. Aliás, muitas pessoas não binárias consideram-se bissexuais. Então porque é que essas pessoas não dizem que são pansexuais? Por um lado, cabe apenas à pessoa escolher o melhor rótulo para si; por outro, pode ter a ver com a ênfase dada à atração com base no género, que é mais relevante para as pessoas bi do que para as pessoas pan. A identidade bi é uma identidade válida, quer se sinta atração por homens e mulheres, quer se sinta atração por todo o tipo de pessoas.
Ultimamente só consigo excitar-me a ver pornografia e não tenho vontade de ter relações sexuais com a minha namorada, apesar de me sentir atraída.
A pornografia gera muito facilmente excitação sexual. Já as relações dão mais trabalho. Passado algum tempo, para algumas pessoas, mesmo quando há atração, deixa de haver desejo espontâneo. Para reverter isso, é preciso criar contextos propícios ao erotismo. Estes podem ser muito variados, mas sabemos que ver pornografia em conjunto, por exemplo, é uma boa forma de facilitar a excitação e atividade sexual entre parceires. Um estudo indica que, inclusivamente, ver pornografia em casal está associado a maior satisfação sexual do que ver pornografia de forma solitária.
A pessoa com quem estou tem dificuldades em manter a ereção. Será só psicológico? Como posso ajudar?
Os problemas de ereção em pessoas jovens têm, frequentemente, causas emocionais/cognitivas e não orgânicas. Uma forma de saber se é um problema orgânico, ou não, é verificar se há ereções espontâneas ao acordar, por exemplo, ou se a falta de ereção se mantém durante a masturbação. Se for situacional é, provavelmente, “psicológico”. Entre aspas, porque temos a tendência a desvalorizar problemas psicológicos, como se fossem menos reais, e não é nesse sentido que uso o termo. Normalmente, a ereção melhora quando o foco da atividade não é a penetração. Portanto, caso haja problemas de ereção, a solução pode passar por desgenitalizar o prazer, tranquilizando a pessoa de que obtemos prazer de outras formas. Além disso, continua sempre a ser possível desfrutar de penetração usando os dedos ou brinquedos sexuais, caso não haja ereção. A verdade é que não conseguimos estar sempre com ereção e, mesmo que conseguíssemos, fazer sempre tudo da mesma maneira pode tornar-se aborrecido. As dificuldades de ereção, como outros desafios, podem ser uma oportunidade para expandir o repertório de prazer.
Sinto que só tenho vontade de fazer sexo duas ou três vezes por mês. É normal?
Sim. Há grande variabilidade de desejo sexual entre pessoas e ao longo da vida. Não só somos diferentes entre nós, como há uma série de fatores contextuais que podem afetar o nosso desejo. A frequência com que desejamos ter relações sexuais só costuma tornar-se problemática, quando estamos com alguém que deseja fazer sexo com uma frequência diferente. Curiosamente, o que a investigação tem mostrado é que quem faz sexo com mais frequência não sente necessariamente mais satisfação. É verdade que, no geral, fazer sexo com mais regularidade leva a maior satisfação sexual, mas a satisfação não aumenta, em média, se fizermos sexo mais de uma vez por semana. Isto não quer dizer que todas as pessoas que fazem sexo uma vez por semana estejam satisfeitas, mas, em termos médios, a satisfação não aumenta de forma significativa se fizerem sexo duas ou três vezes por semana. Claro que estamos a falar de estatística, o que significa que apagamos a experiência de muitas pessoas. Por isso mesmo, o que importa é se a pessoa em questão está satisfeita com a frequência com que faz sexo que, independentemente disso, é normal.
Pode ler o artigo completo na revista CRISTINA de maio, disponível nas bancas e na app CRISTINA M.